“Querido astrólogo,
Por favor, diga se eu, Touro com ascendente em Leão, devo aceitar a oferta de trabalho que recebi, ou se devo prestar concurso público para ganhar mais, mas fazendo algo totalmente diferente de toda minha experiência profissional anterior? Por favor, preciso muito de sua ajuda, pois devo decidir até a próxima semana. Agradeço, do fundo do coração, desde já, por sua preciosa orientação.”
Freqüentemente, nós astrólogos, recebemos e-mails desse tipo. Parece que as pessoas pensam que a Astrologia é algum tipo de sacerdócio, e que o astrólogo tem um dom divino e deve usá-lo para o bem da humanidade.
Desconhecem que, para se tornar astrólogo, uma pessoa precisa estudar uns três anos em média, ter supervisões com colegas mais adiantados, comprar livros, programas de computador, investir tempo, dinheiro e, acima de tudo, todo seu empenho e força de vontade. Como se diz por aí: 10% de inspiração e 90% de transpiração.
Além disso, não é apenas o curso de Astrologia que faz de alguém um Astrólogo, a Astrologia é um estudo muito extenso e profundo, e para se profissionalizar, são necessários anos e anos de dedicação.
E ainda assim, como nem todos os estudantes de Medicina se tornarão bons médicos, nem todos serão bons astrólogos. A diferença é que ninguém pede ao médico que dê uma olhadinha no seu coração ou no seu fígado, porque as pessoas têm consciência de que o médico é um profissional que sustenta sua família e paga suas contas com o seu trabalho. Além do mais, que médico arriscaria sua reputação dando “palpites” por ai? E que tipo de paciente seria tão irresponsável, a ponto de colocar sua vida em risco dessa forma?
Imaginem por um instante um médico que arriscasse um palpite, “sem compromisso” e, por confiar nesse profissional, o paciente seguisse o palpite e viesse a falecer? Claro que isso não acontece. As pessoas sabem que com a saúde não se brinca, mas e com outros tipos de decisões importantes que precisam tomar na vida? Por que elas aceitam correr esse risco?
Respondi à pessoa que enviou o e-mail citado no início deste texto, dizendo que Astrologia não envolve algum tipo de poder sobrenatural, ou seja, que o astrólogo não é vidente, e que eu só poderia aconselhá-la a tomar esta ou aquela decisão analisando o seu mapa astrológico, portanto, ela deveria agendar uma consulta. Para isto, encaminhei as informações sobre a consulta, os dados de que eu precisaria, tempo de duração do atendimento e o custo do trabalho. Veio então a resposta:
“Sinto muito, você ter me interpretado mal. Justamente agora que eu achava que tinha encontrado alguém realmente profissional e que pudesse me dar uma luz…”
Pessoas que pedem aos astrólogos que dêem uma olhadinha em seus mapas, não levam a sério o trabalho do profissional de Astrologia, pois não têm a mínima intenção de seguir seus conselhos, e tudo o que o astrólogo disser, será sempre visto como sem importância. Inócuo.
Com tipos assim, a questão não é o preço, pois o valor que essas pessoas estariam dispostas a pagar pela orientação do astrólogo é NADA. O não pagamento reflete seu ceticismo diante daquilo que vêem com desconfiança, por julgarem pertencer ao reino do mágico ou misterioso, não um verdadeiro impedimento de ordem financeira. Desde que não se precise pagar, não custa nada tentar – “Se não fizer bem, mal também não faz” diz o ditado popular. Só faz mal para aquele que aceita dar o seu melhor para quem não leva a sério nem dá valor à nossa profissão. Nós astrólogos precisamos acabar de vez com esse costume de olhar mapas sem compromisso, com exceção daqueles de pessoas de nossas relações, ou nunca chegaremos a obter o respeito que merecemos, nem o próprio, nem o alheio. Isto vale também para a famosa “permuta”, quando fornecemos textos, informações ou consultoria, em troca de espaço publicitário, normalmente em veículos sem nenhuma expressão ou visibilidade.
No caso citado no início desse texto, conclui que não valia a pena responder, mas bem que eu poderia ter respondido assim:
“Caro amigo,
Você encontrou sim, alguém realmente profissional, e um profissional não trabalha sem remuneração, pois não pode simplesmente dar algo que lhe custou, tempo, dinheiro e muito esforço para aprender. Isso só prova que, a despeito dos elogios dirigidos ao meu trabalho, você não está disposto a pagar por ele, porque você não o valoriza. A questão do pagamento é o que menos importa. Pagamento a gente compõe, parcela, facilita. Mas em nenhum momento você levantou essa questão. Não sou a mercenária sem coração que você pensa. Se fosse, não teria escolhido como profissão aconselhar pessoas, mas exijo consideração e respeito.”
No século XXI a informação é vista como um bem de consumo e as pessoas costumam pagar muito caro por ela, em qualquer segmento, porque então não proceder da mesma forma com relação ao conhecimento astrológico, conhecimento de ordem superior e muito mais raro?
Como profissionais de Astrologia temos que procurar romper esse círculo vicioso e dar mais valor ao nosso conhecimento, pois só assim teremos o respeito que reclamamos para nossa atividade e poderemos reconduzi-la ao lugar de honra que ela já ocupou um dia.