Capricórnio, signo feminino, de terra, marca o solstício de inverno no hemisfério norte. É a escuridão mais densa, as trevas cobrem a terra, e como diz o evangelho de João, “a Luz resplandeceu nas trevas, mas as trevas não a compreenderam”. Não por acaso, todos os salvadores do mundo nascem em Capricórnio, signo da cabra ou, mais adequadamente, do cordeiro do sacrifício, ou o popular bode expiatório.
Capricórnio é o domicilio de Cronos-Saturno, o mais novo dos filhos de Gaia, único que assumiu a responsabilidade de libertar a mãe da tarefa de gerar, incessantemente, os filhos sempre rejeitados de Urano.
Plutão/Hades é filho de Saturno/Cronos, e junto de seus irmãos Júpiter/Zeus e Netuno/Poseidon derrotaram o pai tempos depois. Ambos são energias de terra e Plutão parece muito à vontade nos domínios de Cronos.
Quando foi descoberto, Plutão estava transitando por Câncer, signo da mãe. Agora ele se opõe à posição de sua descoberta e transita Capricórnio, o signo do pai, da autoridade, do governo, da hierarquia. É ai que iremos nos deparar com a destruição das antigas formas e o advento das novas. Plutão só destrói o que já está por assim dizer, maduro para ser podado.
Quando transitou por Câncer, Plutão trouxe o fim da família patriarcal e da submissão do individuo a autoridade dos pais. Duas guerras mundiais se abateram sobre o mundo, muitos pais de família morreram, as mulheres foram à luta e descobriram que podiam tocar suas vidas sem o apoio, e também o controle, masculino.
Como tanto Plutão quanto Capricórnio, regido por Saturno, têm analogia com poder e autoridade, podemos pensar no advento de tipos de governo que tenham um poder supremo sobre a vida das pessoas, decidindo desde o quanto se pode gastar de água e energia, ou quanto se pode gerar de lixo, até o número de filhos cada casal poderá ter, tudo isso “pelo bem do planeta”. Ou também seja o fim dos governos paternalistas, e a conscientização de que o governo não é uma espécie de pai provedor, que cada cidadão deve assumir sua cota de responsabilidade pelo bem comum, pois sozinho, um governo não pode fazer muito para garantir a nossa segurança, nossa saúde, assegurar nosso futuro. No Brasil aliás, já sabemos disso há tempos… A proliferação das ONG’s é uma prova disso.
Plutão como energia de terra, vincula-se ao feminino e, para a mitologia grega, o Destino é feminino, pois é na matéria, no corpo, sempre sujeito à morte e à degeneração, que o destino encontra uma de suas principais áreas de manifestação. Plutão incorporou as funções destruidora e regeneradora da natureza, antes ligada ao feminino, através das figuras mitológicas das Moiras, Parcas, etc. Segundo Liz Greene: Plutão assinala o fim da expansão na esfera de um determinado signo, e o advento do destino. Ele é a parca, deusa do destino.
Plutão representa um Poder Superior enquanto Capricórnio representa um Poder Terreno, material, palpável. Penso que o próprio critério do que é poder deverá se transformar, talvez para incorporar o sentido de poder superior, espiritual, poder que é uma investidura, uma missão. Em meus sonhos mais otimistas o critério para se julgar o quanto alguma coisa ou alguém é poderoso passaria a ser a capacidade ou a sabedoria. Todas as formas de organização de um modo geral deverão passar por reformulações, o que já vem ocorrendo.
Talvez ainda, as estruturas sobre as quais o mundo que conhecemos foi erguido sejam totalmente reformuladas, ou destruídas, para se adaptar a novos tempos.
Capricórnio é o signo da cabra solitária escalando a montanha, a montanha sagrada ou da iluminação, de onde o Deus fala com o ser humano, como falou a Moisés no monte Sinai. Plutão talvez traga a transformação desse contato vertical e o fim das religiões organizadas, baseadas na hierarquia e na observância aos dogmas; seria a volta de uma espiritualidade mais verdadeira, baseada no contato direto do homem com Deus, sem intermediários.
Talvez vejamos o nascimento de novos “autoproclamados” Messias e, quem sabe, de alguém que incorpore a figura do Anti-Cristo, já que ‘a luz que resplandecerá nas trevas’ do solstício são as trevas do mundo subterrâneo de Plutão…
Enfim, o Tempo, outro domínio de Capricórnio/Saturno, poderá ser compreendido de uma forma diferente, não como algo que flui de maneira uniforme, mas como algo sobre o qual podemos agir e até influenciar, assim como o espaço, no sentido de distância, já se tornou irrelevante com o progresso dos meios de comunicação. A forma como administramos o nosso tempo, a divisão entre o tempo dedicado ao trabalho e o tempo de lazer poderá sofrer reformulações significativas. O próprio sistema ou regime de trabalho poderá passar por mudanças significativas. Enfim, Plutão nos mostrará que estamos sujeitos a um Poder Maior, Superior, Divino, e que as coisas não acontecem conforme queremos ou como programamos. Elas, as coisas, acontecem no tempo certo, obedecendo a leis que não conhecemos…
Acontecem se, e quando, “Deus” quiser…
(* artigo de 3 de março de 2008 – quando Plutão se encontrava a 0°54 de Capricórnio)