Muito se fala e escreve a respeito do primeiro “Retorno de Saturno” aos 28-30 anos. Até na música o tema foi abordado por Renato Russo, e recentemente, pelo grupo Detonautas. Mas, e o segundo retorno?
Desse ninguém fala. Acontece entre os 58-60 anos de idade e não traz consigo o desafio da autossuficiência e autoafirmação individual do primeiro. No primeiro somos jovens e estamos construindo os alicerces de nossa vida adulta enquanto, no segundo, estamos pensando na aposentadoria.
Saturno nos lembra da passagem do tempo, das limitações e da velhice, mas também representa a experiência e a sabedoria que se adquire com o passar dos anos.
Saturno tem muito a ver com as fases significativas de nossa vida. Ultimamente tenho atendido muitas pessoas nessa faixa etária e as reações a ela variam bastante.
Enquanto alguns não se conformam com as perdas impostas pela idade, dos cabelos à potencia sexual, outros anseiam por esse momento que permitirá uma libertação impensável das obrigações para com o trabalho, a família, horários, etc. As mulheres, com raras exceções, costumam reagir bem melhor à essa fase, pois muitas vezes precisam adiar seus projetos de vida para quando os filhos não precisarem mais delas.
Entretanto, o que mais me chama a atenção são as pessoas que não tem projetos para essa fase da vida, que ficam à sombra dos filhos, ou pior ainda, querem viver a vida deles e nisso acabam interferindo e sofrendo, ao perceberem que sua participação já não é mais necessária e muito menos desejável.
Muitos então adoecem, ou se fazem de doentes, para obter mais atenção dos outros e acabam se tornando uma companhia desagradável e afastando ainda mais as pessoas que os rodeiam. Ninguém tem prazer em viver ao lado de pessoas depressivas e rabugentas, cheias de manias e certezas incontestáveis.
Mas o que fazer quando não se sabe fazer nada além de cuidar da casa, do marido e dos filhos ou, no caso masculino, a ser um mero provedor de bens materiais?
Pois é… sabem o que está fazendo falta? Uma paixão! Sim!
Está na hora de nos re-apaixonarmos.
É preciso descobrir um ‘novo amor’, um interesse, um ideal enfim, que traga de volta aos nossos olhos o brilho que um dia existiu ali. Que nos faça saltar cedo da cama, cheios de entusiasmo, ou que nem nos deixe dormir de tanta excitação. Não estou falando de uma pessoa e sim de uma atividade. Um curso, um trabalho voluntário, um hobby. Pode até ser uma pessoa a quem iremos nos dedicar, mas de uma forma diferente, com um objetivo.
Esses são anos de busca de harmonia interior, de ter espaço para nos tornarmos quem realmente somos e de darmos nossa contribuição à sociedade, ao Todo. Tempo de retribuir o que recebemos do mundo e passar nossa experiência adiante.
O importante é se apaixonar pela Vida e vivê-la com prazer e alegria, apreciando cada pedacinho, como quem degusta um delicioso vinho. E adquirindo, a cada dia, mais experiência, sabedoria e serenidade – palavras-chave preciosas para Saturno.