Hermes pergunta a Poemandro quem ele é, e Poemandro responde que ele é Mente, em grego Nous.(…) O aspecto de Poemandro se modifica e todas as coisas se abrem para Hermes. Tudo se torna Luz. (…) Da luz vem a Palavra que desce sobre a natureza úmida. (…) Entretanto, Luz é Mente, o primeiro Deus, e o Logos, a Palavra, é, assim, o filho de Deus.(…) pois a vida é união de logos e nous, palavra e mente.
(…) A segunda Mente era o fogo e o espírito do ar. Ela criou sete Administradores que abrangem o mundo sensível ou cosmo-material. (Fludd chama de inteligências, anjos ou governantes dos planetas). Sua administração, segundo os escritos herméticos, é chamada de Destino.
(…) O homem também sente o desejo de criar e recebe permissão do Pai. Cada um dos sete Administradores dá ao homem uma parcela de seu trabalho .

A narração da Criação e do funcionamento da vida, do homem e do Universo, bem como da relação do homem, da natureza com Deus feita por Hermes Trismegisto na Hermética e na Tábua de Esmeralda, são tradicionalmente citados como referência de fundamentação da ciência e filosofia alquímica. E de fato é na obra deste Mestre que encontramos as bases do trabalho alquímico.

Encontramos também as bases do saber astrológico, notadamente no sentido de que a Astrologia é também uma ciência alquímica, traduzindo-se por um modelo pelo qual o homem pode se espelhar na busca da chamada alquimia interior, do casamento alquímico do Homem com a Natureza.

Quando Hermes diz, referindo-se ao homem, “Ele tem todas as coisas sob seu poder, contudo está sujeito ao Destino. Ele está acima da Harmonia ou fora do Cosmo, entretanto é seu servo… ” Está se referindo a dualidade presente na essência humana – a parte imortal, espiritual que convive, por assim dizer, com a parte mortal, material.

Em suma, traz a chave do trabalho humano na busca de sua evolução espiritual, que é o caminho da salvação ou reabilitação espiritual. Esta expressão, reabilitação espiritual é encontrada nos textos de Louis-Claude de Saint-Martin, que deu origem ao Martinismo, movimento místico-esotério que trabalha por esta reabilitação, e se traduz na união do homem com Deus, no retorno ao Criador, uma vez que o “espírito do homem” é composto pela essência divina do Criador.

É composto por esta essência, mas, pela ignorância, que se traduz pelo amor ao corpo, à matéria deixou-se levar pelo eros, afastando-se do Bem e, na linguagem de Saint-Martin, vaga pelas trevas do mundo dos sentidos e padece a morte.
Portanto, seu trabalho de reabilitação espiritual é, cada vez mais, a partir de conhecer a si mesmo, seu verdadeiro Eu, afastar-se dos caminhos do eros e se aproximar de sua forma ideal (eidos), a parte imortal do homem, que provém da Vida e da Luz. Assim o Bem se estabelece e a Mente, conforme definida por Hermes, está presente nos homens bons e santos, ou seja, reabilitados espiritualmente.

Quando o homem desencarna, sua parte imortal ascende às esferas pela Harmonia, entregando a cada uma das sete zonas um atributo conquistado pelo seu trabalho de evolução (Atualmente a Astrologia trabalha com mais do que sete astros ou zonas, contudo o conceito continua o mesmo).

Pelas sucessivas encarnações pelas quais o homem tem que viver, pelo seu Destino, vem construindo seu caminho de reabilitação espiritual, ou, vem vivenciando sua liberação do amor à matéria e desenvolvendo seu amor pela “forma de Deus” – a Natureza visando unir-se à Mente, Consciência Cósmica, a tal ponto que, um dia, pela vitória de sua Vontade firme, será uno com o Pai, será o Unido.

Assim, um mapa astrológico se reveste de uma importância ímpar, pois retrata ao mesmo tempo o que já foi construído e a missão a ser realizada nesta encarnação. Mostra a que nível ascensional cada homem já chegou, quais atributos dos administradores já foram assimilados e desenvolvidos.

Num sentido prático e de fácil assimilação, vemos que cada um dos Administradores (inteligências dos Planetas) citados por Hermes são Poderes, ou expressões do Poder Superior que se traduzem ao homem, aqui na Terra, por Virtudes a serem conquistadas ou desenvolvidas. Mais especificamente, reabilitadas, uma vez que as Virtudes são do espírito e não da matéria, portanto potencialmente presentes na parte imortal do homem desde sua criação.

Jacob Boehme, neste sentido descreve com riqueza simbólica, diversas verdades a respeito deste conceito e da chamada “queda do homem”. Fala de Lúcifer e de Adão, indicando o lugar de cada um e como podemos caminhar pela seara da Luz. O cosmo ordenado é mais facilmente compreendido, a partir da visão de Boehme, uma vez que descreve como o Reino foi criado (entende-se este Reino Divino como o cosmo-arquétipo que dará origem ao cosmo-material).

A Trindade revelada, que só agora pode ser objeto da inteligência criada. (…) a criação da Natureza eterna, que tem um início sem início e um fim sem fim. (…) que a grande Residência real ou a divina Habitação de glória de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, foi imediatamente preenchida por incontáveis habitantes. Sendo todos eles gloriosas chamas de Fogo, todos filhos de Deus e todos espíritos ministeriais, divididos em três reinos.(…) Entretanto, só sabemos os nomes dos reis de dois deles: …, porque somente os reinos e as legiões destes permaneceram na Luz .

Na seqüência explica como se formou as trevas e qual legião e rei estão nela contidos. Assim, vemos que a obra de Deus, em sua infinita bondade e sabedoria, nos dá o cosmos ordenado (em grego, cosmos é ordem) como ferramenta de trabalho no sentido reabilitação, da saída das trevas no caminho da Luz, Mente.

Claramente vemos que tem o homem a Luz da estrelas para lhe guiar no caminho e, principalmente tem o Sol como sua referência de Ser. O Sol no mapa astrológico está diretamente ligado à missão de cada um no sentido de um dia poder dizer EU SOU .

Ascendendo as esferas dos Planetas, ou melhor, reabilitando as Virtudes dos Poderes expressos pelos Planetas vem crescendo e se aproximando cada vez mais da Luz Maior, refletindo este brilho em sua obra aqui na Terra.

E, com profunda clareza e objetividade, Saint-Martin é quem descreve como podemos começar a trilhar verdadeiramente este caminho de reabilitação, por meio de três faculdades que interligam os seres divinos: Pensamento, Vontade e Ação. Diz que, no plano divino tudo é uno, sendo estas três faculdades uma só. Mas, no plano humano, onde ainda não podemos ver a Luz em sua plenitude, temos que lidar com a diversidade e com expressões parciais da verdade para, a partir do crescimento, chegarmos a ver a plenitude.

Mostra que existe uma espécie de eleição em que os seres são encarregados de manifestar as coisas divinas…

A lei que dirige esta espécie de eleições é semelhante à lei que constitui a própria Divindade: tem por base a propriedade sagrada das faculdades do Primo Princípio e a ordem numérica atuante em todos os Seres…

Indica que o caminho começa pela Ação, que desenvolverá a Vontade e alinhará o Pensamento. Ação Correta faz crescer a Vontade Justa e alinha o pensamento com o Bem.

Ao examinarmos mapas astrológicos sob esta ótica vemos as posições de Marte, Sol e Mercúrio, como expressões destes princípios no âmbito consciente do homem e vemos Plutão, Netuno e Urano como expressões no âmbito do inconsciente coletivo. Assim, há uma sintonia a ser obtida, conforme o esquema a seguir:

Pensamento – Vontade – Ação (Homem)  >>>>>  Mercúrio – Sol – Marte

Amor  >>>>> Lua – Vênus

Justiça >>>>> Saturno – Júpiter

Pensamento – Vontade – Ação (Divinos) >>>>> Urano – Netuno – Plutão

Em suma, a reabilitação espiritual acontece quando o Homem sintoniza seu Pensamento, Vontade e Ação com o Pensamento, Vontade e Ação divinos, de tal forma que um e outro sejam os mesmos. Isso acontece pela ligação do Amor e da Justiça.