A Dádiva da Maternidade

Divani TerçarolliArtigos, Textos Diversos

A primeira quinzena de Maio pertence à Touro, primeiro signo do elemento terra, símbolo da fertilidade, e corresponde à Primavera no hemisfério norte.
A vigorosa energia representada por Áries, cresce e toma forma no signo material de Touro. A Primavera significa o despertar da natureza, o crescimento da vegetação que traz fartura e abundância de alimentos. Portanto, Touro, signo de energia feminina, é o signo da Mãe Terra, fonte de toda a vida, o ventre fértil que acolhe a semente, prepara a gestação, e sustenta o crescimento. Neste sentido, a vaca em lugar do touro, talvez fosse um símbolo muito mais adequado…
Antigamente, maio era chamado de mês das noivas, atualmente é mais conhecido como mês das mães, enquanto no calendário religioso, é dedicado à Virgem Maria, mãe de Jesus. Para os gregos, Rhea, ou Réia, mãe de Zeus, era a deusa da terra, donde se originaram os termos mater, mater rhea ou matéria, para significar aquela que nos deu a forma física, que nos permitiu a encarnação num corpo material, para que pudéssemos participar da aventura da vida.
Às vezes é difícil para as mães aceitar o fato de que os filhos não lhes pertencem, que elas apenas lhes forneceram o veículo físico, mas que não podem contagiá-los com suas idéias, crenças ou sua visão de mundo.
O poeta libanês Gibran Khalil Gibran, em seu poema “Os Filhos”, assim resumiu:
“Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.”

No simbolismo astrológico, a Lua representa a natureza emocional, a autonutrição, ou aquilo de que precisamos para nos sentir seguros emocionalmente. A Lua, que tem sua “exaltação” em Touro também representa a influência da mãe, nosso primeiro vínculo com o mundo exterior, nossa fonte de alimento, tanto físico quanto emocional, raiz de nossa sensação de segurança, pois, normalmente, é quem atende às necessidades básicas da criança. A qualidade da atenção recebida nessa fase de vida, muito dependente e receptiva, irá determinar o tipo de sentimento de segurança que a pessoa levará consigo por toda a vida.
Pessoas que foram abandonadas ou separadas das mães muito cedo na vida, têm dificuldade em estabelecer vínculos emocionais consistentes: o temor de abandono muitas vezes faz com que elas abandonem antes de serem abandonadas.
“Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas,
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonhos.”

As dificuldades emocionais e a influência materna são mostradas pelo estado celeste e pelos aspectos “difíceis” que a Lua recebe no mapa natal. Como, fisicamente, a Lua rege o estômago, as funções digestivas e a capacidade de assimilação, esses conflitos emocionais, o estresse, a insegurança, e as dificuldades com a mãe costumam vitimar esses órgãos, e às vezes, até extravasar esses limites, como na ocorrência de acne e outros problemas de pele.

“Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.”

Tento imaginar como serão os filhos das mães adolescentes, que mal saídas da puberdade, engravidam e dão à luz numa fase de suas vidas em que elas mesmas ainda não amadureceram física e emocionalmente. Como serão essas crianças, filhas de outras crianças? Esse relacionamento horizontal, de quase irmãos, será capaz de suprir as necessidades básicas de amor e proteção que uma criança demanda?
No aconselhamento astrológico, analiso muitos mapas que sinalizam, inequivocamente, conflitos e carências originados na infância. Há muitos adolescentes inseguros e carentes, vivendo suas vidas como se precisassem pedir perdão por haverem nascido, mas também, “adolescentes de meia idade” preocupados em corresponder às expectativas e anseios de suas mães, incapazes de romper o cordão umbilical e de se afirmarem como indivíduos auto-suficientes.
“Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.”

Acredito que felicidade do ser humano passa, necessariamente, por um relacionamento equilibrado e amoroso com a figura materna. A mãe que tem uma relação tranquila e afetuosa com seu filho possibilita que ele aprenda a nutrir a si mesmo emocionalmente e o resultado é a capacidade de adaptação, independência e a integração à sociedade.
Enquanto os filhos precisam de nós somos o seu porto seguro. Vê-los partir, deixá-los se lançar ao oceano conturbado da vida é muito, muito mais difícil…
Nessa hora é preciso humildade para se contentar com o segundo plano em suas vidas, aplaudindo suas vitórias e consolando suas derrotas.
“Que o vosso encurvamento, na mão do ‘Arqueiro’, seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.”

A maior dádiva da maternidade é, simplesmente, ver os filhos crescerem e se libertarem da nossa influência. Saber que eles estão prontos, e que podem caminhar sem nossa ajuda, é a grande dádiva e nossa maior recompensa.