Apesar de algumas religiões verem na Astrologia uma espécie de culto pagão de adoradores de estrelas, na verdade ela é uma prática, tal como a psicologia, que não interfere na crença pessoal de cada um. Ao contrário, é na Bíblia que nós, astrólogos, vamos buscar muitos exemplos e analogias para explicar a linguagem simbólica da Astrologia.
A propósito, se a Astrologia fosse tão ofensiva a Deus como querem fazer crer alguns setores religiosos, Ele não teria conduzido três astrólogos (*) ao local de nascimento de Seu filho. Astrólogos, sim, que perguntaram: – ”Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.” (Mateus II, 1-2)
Eles trouxeram ouro, para simbolizar a realeza de Cristo; incenso, Sua divindade, e mirra, Seu poder curador, regenerador de almas.
Talvez, esses ricos presentes tenham ajudado a Sagrada Família a fugir para o Egito, quando Herodes mandou matar todos os bebês judeus do sexo masculino.
Para celebrar o nascimento do filho de Deus, as pessoas se preocupam em enfeitar a casa, pintar, trocar cortinas, enfim, mudar o ambiente, renovar o ar, ou pelo menos, fazer uma boa faxina na época do Natal.
Mas quantos se preocupam em enfeitar o rosto com um sorriso, trocar as críticas e as palavras amargas por um elogio, espanar as ‘teias de aranha’ dos preconceitos, jogar fora velhas mágoas e ressentimentos guardados no porão da memória?
Por que tanta gente fica triste e deprimida nessa época, por que tantos detestam as festas natalinas e prefeririam dormir e só acordar em janeiro, quando tudo já houvesse terminado? Qual o motivo dessa tristeza, em lugar da alegria que as luzes de Natal anunciam, e a ‘mídia’ parece esbanjar em suas mensagens?
Será porque essa data nos obriga a olhar além das aparências, a enxergar coisas que tentamos não ver? Ou porque amolece nosso coração, insensível de tanto conviver com o sofrimento, diariamente, ao vivo e em cores, próximo ou distante, nas guerras, atentados, protestos, fome, violência, etc.?
Na verdade, nós nos sentimos vazios, talvez até um pouco culpados, pois sentimos que deveríamos fazer alguma coisa para melhorar o mundo em que vivemos. Então, tentamos colocar ordem em nosso pequeno mundo, a começar pelas nossas casas.
Mas melhorar o mundo não é alterar a forma, e sim o conteúdo. A mudança externa tem que refletir a interna. Não apenas no Natal, mas todos os dias de nossas vidas, deveríamos refletir, honestamente, sobre o que fizemos, ou deixamos de fazer para melhorar a nós mesmos, e à sociedade em que vivemos, e nos comprometermos seriamente com nosso crescimento; não só espiritual, mas também emocional e intelectual, pois só poderemos mudar o mundo à nossa volta, se e quando cada um conseguir mudar a si mesmo.
Giordano Bruno disse: “A alma humana possui janelas que ela pode fechar hermeticamente.” A Luz bate nas janelas de todas as almas humanas, mas nós estamos cegos para ela. Quando essas janelas se abrem, e deixamos a Luz entrar, a alma toda se ilumina. Mas nós mantemos as janelas fechadas e não nos permitimos ver essa luz. Só podemos imaginar o que existe lá fora, através de frestas, que são os raros momentos em que nosso ser faz contato com o divino, quando nos emocionamos ouvindo uma música, contemplando a natureza ou um sorriso de criança.
Quando a vontade humana abre a janela, a verdadeira Vida inunda a alma. Mas como o ser humano é dotado de livre-arbítrio, nós é que temos que querer abrir nossas janelas.
Dizem que o Menino Deus nasceu numa caverna, num estábulo. Nos presépios de antigamente, Jesus recém-nascido era bem pequenino, até desproporcional, em relação às outras personagens, exatamente para simbolizar que o Cristo, a centelha do amor divino, tem que nascer dentro da caverna do coração do homem.
Como todo herói verdadeiro, esse filho da Luz nasce no signo de Capricórnio – ocasião do solstício de inverno no hemisfério norte – quando as trevas são mais densas, e a noite é mais longa e mais escura.
João, o discípulo amado, assim escreveu: – “Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito. NEle havia vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandeceu nas trevas e as trevas não a compreenderam.” (João I, 4-5)
Essas trevas são a nossa insensibilidade, nossos preconceitos, nossos ressentimentos, que sufocam o divino em nós. Estamos muito acostumados a viver na escuridão…
Mas, vivenciar o espírito do Natal, é escancarar-se para a luz – é abrir as janelas da alma!
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(*) Em Mt. II, 2, Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria Ltda., SP, 1993, há um asterisco após a palavra magos remetendo à nota de rodapé onde se lê:
Magos: a tradição popular diz que foram reis. Não o sabemos, porém. Deveriam ser sábios, astrônomos ou astrólogos.
Nota da autora: Naquele tempo não existiam os termos astrólogo e astrônomo, criados séculos mais tarde, para diferenciar aqueles que só observavam os céus (astrônomos), daqueles que ousavam afirmar que os movimentos dos corpos celestes influenciavam a vida humana (astrólogos), atitude que podia ser punida até com a morte.