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Há algum tempo atrás, visitando Florença, tive o privilégio de conhecer diversas obras de Michelangelo. Entre elas havia uma série de esculturas denominadas de “pietás”. Não eram réplicas da Pietá mais famosa, que se encontra na Basílica de São Pedro, no Vaticano, mas outras “pietás”, toscamente esculpidas, mais parecendo obras inacabadas. Uma em especial me chamou a atenção por causa das mãos enormes da ‘madona’ tentando sustentar o corpo inerte do filho. Não pude deixar de comentar com a nossa guia, uma simpática e dinâmica senhora de 86 anos, professora da Academia de Belas Artes de Florença, a desproporção que havia naquelas mãos, tão estranhas, ainda mais após termos admirado as proporções perfeitas de outra obra - a estátua de Davi, do mesmo Michelangelo, a poucos passos dali. Como boa professora ela ficou satisfeita com a minha observação, e explicou que certa feita, ao ser indagado por quê esculpia as “pietá”, o grande mestre afirmou que a dor que sentira ao perder sua mãe era igual à dor que uma mãe sente ao perder um filho, da mesma intensidade, e assim, ele as esculpia para externar sua dor, pois ambas eram uma só e a mesma dor.
Na tentativa de reter o ser amado junto de si, aquelas mãos enormes eram impotentes diante de tal tarefa. A pequena professora italiana conseguiu me comover com seu entusiasmo e paixão, ao explicar a obra do grande artista, repleta de sentimento, ao contrário de muitos outros escultores daquela mesma época.
Que profundidade e sabedoria possuía o jovem Michelangelo…
A mesma dor…
Pensei no sofrimento de cada mãe que sofre com a perda, real ou não, de um filho, pois essa perda pode ser, não apenas para a morte, mas também para as drogas, ou para outras tantas circunstâncias da vida.
Toda mãe gostaria de ter aquelas mãos enormes da Pietá para erguer seu filho, apoiá-lo, dar-lhe a coragem de enfrentar o mundo e a vida sem medo de fracassar, sem medo de não ser amado, aceito, respeitado, bem sucedido.
Ter as mãos enormes da Pietá para carregá-lo, quando seus pés já não o pudessem fazer, por doença, exaustão ou simples desânimo.
Ter as mãos da Pietá para acariciá-lo, como quando ele era um menino pequeno e indefeso, e lhe dizer, mais uma vez, o quanto ele é amado e que ela daria tudo que tem para fazê-lo feliz.
Era dessas mãos que o grande artista sentia falta; que tantos seres humanos sentem falta…
Hoje, quando se celebra a alegria da maternidade e tantas mães tem a felicidade de ter seus filhos junto de si, elevo meu pensamento e junto meu coração ao de todas as mães que viram seus filhos partirem, de todas as formas possíveis que existem de partir; todas as mães que tentaram salvar seus filhos das garras das drogas, da violência, da doença ou das más companhias; todas as mães que sofreram e rezaram e choraram pelas madrugadas afora, temendo que seus filhos não mais voltassem; temendo ouvir o toque do telefone, ou da campainha, anunciando uma tragédia.
De todas nós, Senhor, tende compaixão, tende piedade - Pietá!
Dai-nos força e coragem para não sucumbirmos à dor.
E amor em tal quantidade, que possamos conceder a vida aos nossos filhos pela segunda, terceira, ou milésima vez!
Ou se não houver jeito enfim, que possamos dizer entre soluços:
“seja feita a Vossa vontade”.
E dai-nos, ainda, Senhor, outras mãos, mãos muito grandes, mãos enormes…